Brasil: Seminário discute feminicídio

Vídeo entrevista militante da AFM-AMB-FMPE sobre papel da mídia nos casos de violência contra as mulheres e debate traz à tona recentes casos de feminicídios com requintes de crueldade expostos na nos meios de comunicação. Os casos pioram, os números aumentam e a mídia ainda insiste em divulgar os assassinatos como "crimes passionais. Por Analba Brazão e Déborah Guaraná.

 Dia 07 de abril foi exibido na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, durante o Seminário 10 anos da Lei Maria da Penha, o documentário “Quem matou Eloá?” da diretora Livia Peres, que traz entrevistas com duas militantes da Articulacion Feminista MarcoSur (AFM) e Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB). A educadora do SOS Corpo, Analba Brazão, foi uma das mulheres que compôs a mesa de debate, que contou com cerca 80 jovens universitárias e foi proposto por conta dos últimos casos de violência contra as mulheres no país, que tem atingido índices alarmantes. 

Apenas em Pernambuco, nos dois primeiros meses do ano, 58 mulheres foram vítimas de mortes violentas. Em janeiro tivemos notícias de dois casos de feminicídio coletivo nos quais o assassino, além de matar todas as mulheres de uma mesma família, deixa uma carta criticando as leis de proteção às mulheres vítimas de violência. Essa semana, na capital do Estado, um homem branco degola sua vizinha num flat de um dos bairros mais nobres da cidade, Boa Viagem. A polícia, num caso raro de efetividade e rapidez, chega a tempo de fazer o flagrante. Grande mobilização é feita para que o assassino não saia impune. Na semana anterior, uma profissional da maior rede de televisão, além de ter tido sua genitália tocada por um galã de novela no ambiente de trabalho, foi xingada de vaca por ter se recusado a fazer sexo com ele.

Esses casos ganham grande destaque na mídia e servem para visibilizar os a crueldade dos feminicídios e mobilizar mais mulheres para o enfrentamento a esse tipo de violência, mas, infelizmente, os episódios mais comuns e freqüentes não chegam ao conhecimento público ou sequer chegam a ser denunciados. O tom de perversidade da violência machista é fatal contra todas as mulheres, mas o que faz o Brasil ser o quinto lugar no mundo onde mais se matam mulheres são os crimes contra as mulheres pobres, negras e que moram nas zonas rurais. Os municípios com as maiores taxas de assassinato de mulheres são os de pequeno porte e estão espalhados ao longo do território nacional.

Enquanto isso, num portal de notícias, um comentário de um homem era o seguinte: “daqui a pouco não poderemos mais nem cantar as mulheres!”. Enquanto isso, o goleiro que matou, esquartejou e enterrou a mulher no próprio jardim, Bruno Fernandes de Souza, entrará em campo sábado que vem, segundo os jornais “em plena evolução e regularizado”. Enquanto isso, o governador do Estado, em fala pública, diz que para evitar estupros e violência nas ruas, as mulheres devem se comportar melhor, se expor menos, usar roupas adequadas, andar acompanhadas e evitar embriaguez. Os homens, o poder público e a mídia estão rindo na nossa cara. Estão rindo da violência que nós sofremos, estão tratando feminicídio como crime passional, estão colocando a culpa nas mulheres.

O documentário sobre a morte de Eloá trata de um caso que aconteceu em 2008 na cidade de Santo André, interior de São Paulo, em que uma adolescente de 16 anos de idade, ficou durante 5 dias em cárcere privado pelo seu ex-namorado, sofrendo todo tipo de agressão física e psicológica e foi assistido por milhares de pessoas no Brasil, ao vivo, como se fosse um seriado de TV. A mídia televisiva e escrita disputaram de todas as formas a audiência, transformando o algoz em ator principal e deixando cada dia mais vulnerável a vida da menina Eloá. Este documentário mesmo trazendo a tona um caso em 2008, nove anos depois, continua nos noticiários de jornais televisivos anúncios de feminicídios, e cada vez mais com requinte de crueldade.

Documentário: Quem matou Eloá? (2015, 24 minutos)
Diretora: Lívia Perez
Disponível em: https://youtu.be/4IqIaDR_GoQ

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