Lançamento do livro no Recife: Feminismo no Exílio

Ainda é um gesto de rebeldia para as mulheres afirmarem-se como sujeitas da história. Existe uma figura clássica do homem combatente, do militante herói e, enquanto eles são enaltecidos, pouco se fala que já existiam feministas nos tempos de ditadura militar. A história que Contamos é a das brasileiras militantes de esquerda que se exilaram em Paris durante o período das ditaduras na América Latina. No exílio europeu, reunidas em pequenos grupos de autorreflexão, essas mulheres organizaram-se através de reuniões semanais, assembleias mensais, conferências e encontros. Escreveram, publicaram e incomodaram com as primeiras ações internacionais contra as ditaduras e pela libertação das mulheres.

Apesar do movimento feminista estar fervilhando na Europa nos anos 60 e 70, a esquerda na América Latina se negava a discutir as questões de gênero. Diferente do Brasil, onde não havia agrupamentos só de mulheres, em Paris, os cartazes convocando para os diversos grupos se espalhavam por toda a capital francesa. A imprensa feminista teve um papel fundamental na disseminação das ideias do movimento: circulavam periódicos de diversos movimentos nas bancas de revistas e entre os grupos e cartazes eram usados para convidar para as reuniões de mulheres. Essa mídia alternativa não apenas fomentava a organização feminista, como também incendiava o mundo com suas ideias.

As mulheres latinas e brasileiras, acompanhando a organização das europeias, começaram se reunir entre si também. A organização das mulheres brasileiras em Paris é o tema da pesquisa realizada por Maira Abreu, doutora em Ciências Sociais pela Universidade de Campinas (Unicamp), lançado agora no Recife com o título Feminismo no Exílio. A pesquisa documenta o Grupo Latino-Americano de Mulheres em Paris e o Círculo de Mulheres Brasileiras em Paris, que se articulavam, mas mantinham independência. 

As latinas, após uma intensa articulação com esses outros movimentos para derrubar a censura sobre um livro de feministas denunciando a ditadura em Portugal, criaram, o boletim Nosotras, com o objetivo de fazer as ideias feministas soarem mais próximas às mulheres latinas e também incentivava a que todas elas falassem e se desenvolvessem. Já o Círculo de Mulheres Brasileiras em Paris reunia semanalmente cerca de 8 mulheres, entre elas uma das fundadoras do Fórum de Mulheres de Pernambuco e SOS Corpo, Betânia Ávila e também a socióloga Suzana Maranhão, uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores.  As Assembleias do Círculo aconteciam mensalmente e reuniam mais de cem mulheres, sendo bastante reconhecido pelo movimento feminista francês e requisitado para reuniões e palestras. Elas também mantinham contato com os jornais "Nós Mulheres" e "Brasil Mulher", estabelecendo um vínculo para envio de artigos, reflexões e informações. Os boletins e encontros mostram como a organização das mulheres se dava dentre elas para fora, ou seja, o que as mulheres escreviam para o mundo era pensado a partir das reivindicações vinculadas às suas vivências expostas nos grupos. Isso não era, nem é ainda, era algo vigente ou comum. 

 

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